quinta-feira, 26 de junho de 2008

O antes e o agora...

Muitas situações vividas anos atrás tiveram respostas bem diferentes do que se tivessem sido vividas presentemente.
Todos nós passámos já por situações, quer profissionais ou outras que, foram resolvidas de forma diferente devido à maneira de ser das pessoas , devido à forma de encarar a vida e a educação e, se compararmos os comportamentos das pessoas com quem convivemos, facilmente verificamos que os nossos avós, ou mesmo os nossos pais, dariam respostas diferentes do que as que são dadas actualmente.
É certo que "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", mas a época em que vivemos bem como o futuro que se nos avizinha é de certa forma preocupante, senão vejamos:

Antes e agora

Situação:
O Pedro está a pensar ir até ao monte depois das aulas, assim que entra no colégio mostra uma navalha ao João, com a qual espera poder fazer uma fisga.
Ano 1978: O director da escola vê, pergunta-lhe onde se vendem, mostra-lhe a sua, que é mais antiga, mas que também é boa.
Ano 2008: A escola é encerrada, chamam a Polícia Judiciária e levam o Pedro para um reformatório. A SIC e a TVI apresentam os telejornais desde a porta da escola.
Situação:
O Carlos e o Quim trocam uns socos no fim das aulas.
Ano 1978: Os companheiros animam a luta, o Carlos ganha. Dão as mãos e acabam por ir juntos jogar matrecos.
Ano 2008: A escola é encerrada. A SIC proclama o mês anti-violência escolar, O Jornal de Notícias faz uma capa inteira dedicada ao tema, e a TVI insiste em colocar a Moura-Guedes à porta da escola a apresentar o telejornal, mesmo debaixo de chuva.
Situação:
O Jaime não pára quieto nas aulas, interrompe e incomoda os colegas.
Ano 1978: Mandam o Jaime ir falar com o Director, e este dá-lhe uma bronca de todo o tamanho. O Jaime volta à aula, senta-se em silêncio e não interrompe mais.
Ano 2008: Administram ao Jaime umas valentes doses de Ritalin. O Jaime parece um Zombie. A escola recebe um apoio financeiro por terem um aluno incapacitado.
Situação:
O Luis parte o vidro dum carro do bairro dele. O pai caça um cinto e espeta-lhe umas chicotadas com este.
Ano 1978: O Luis tem mais cuidado da próxima vez. Cresce normalmente, vai à universidade e converte-se num homem de negócios bem sucedido.
Ano 2008: Prendem o pai do Luís por maus tratos a menores. Sem a figura paterna, o Luís junta-se a um gang de rua. Os psicólogos convencem a sua irmã que o pai abusava dela e metem-no na cadeia para sempre. A mãe do Luís começa a namorar com o psicólogo. O programa da Fátima Lopes mantém durante meses o caso em estudo, bem como o Você na TV do Manuel Luís Goucha.
Situação:
O Zézinho cai enquanto praticava atletismo, arranha um joelho. A sua professora Maria encontra-o sentado na berma da pista a chorar. Maria abraça-o para o consolar.
Ano 1978: Passado pouco tempo, o Zézinho sente-se melhor e continua a correr.
Ano 2008: A Maria é acusada de perversão de menores e vai para o desemprego. Confronta-se com 3 anos de prisão. O Zézinho passa 5 anos de terapia em terapia. Os seus pais processam a escola por negligência e a Maria por trauma emocional, ganhando ambos os processos. Maria, no desemprego e cheia de dívidas suicida-se atirando-se de um prédio. Ao aterrar, cai em cima de um carro, mas antes ainda parte com o corpo uma varanda. O dono do carro e do apartamento processam os familiares da Maria por destruição de propriedade. Ganham. A SIC e a TVI produzem um filme baseado neste caso.
Situação:
Um menino branco e um menino negro andam à batatada por um ter chamado "chocolate" ao outro.
Ano 1978: Depois de uns socos esquivos, levantam-se e cada um para sua casa. Amanhã são colegas.
Ano 2008: A TVI envia os seus melhores correspondentes. A SIC prepara uma grande reportagem dessas com investigadores que passaram dias no colégio a averiguar factos. Emitem-se programas documentários sobre jovens problemáticos e ódio racial. A juventude Skinhead finge revolucionar-se a respeito disto. O governo oferece um apartamento à família do miúdo negro.
Situação:
Fazias uma asneira na sala de aula:
Ano 1978: O professor espetava duas valentes lostras bem merecidas. Ao chegar a casa o teu pai dava-te mais duas porque "alguma deves ter feito"
Ano 2008: Fazes uma asneira. O professor pede-te desculpa. O teu pai pede-te desculpa e compra-te uma Playstation 3.
Situação:
Chega o dia de mudança de horário de Verão para Inverno.
Ano 1978: Não se passa nada.
Ano 2008: As pessoas sofrem de distúrbios de sono, depressão e caganeira.
.
Todas estas situações não são de minha autoria, foram-me enviadas por e-mail, mas, qualquer um de nós será capaz de acrescentar à lista muitas outras situações vividas.
Por exemplo, uma que está bem presente no meu dia-a-dia de professora e directora de turma.
Situação:
Um aluno porta-se mal na aula. O professor/D.T. escreve para casa uma mensagem explicativa e pede a comparência do encarregado de educação na escola para tentarem em conjunto arranjar forma de melhorar o comportamento do aluno.
Ano 1978: O encarregado de educação comparece na escola, pede desculpa pelo conmportamento do seu educando, e garante já o ter posto de castigo. Reforça mais dez vezes o pedido de desculpa e retira-se agradecendo a atenção dispensada.
Ano 2008:
Surgem várias hipoteses:
  • O encarregado de educação não dá qualquer resposta;
  • O encarregado de educação assina a caderneta, sem qualquer comentário;
  • O encarregado de educação, responde por escrito que é dever do professor resolver o problema;
  • O encarregado de educação desloca-se à escola e afirma que não sabe o que lhe há-de fazer;
  • O encarregado de educação desloca-se à escola e afirma que em casa o seu educando é exemplar, logo, não compreende o seu comportamento na escola e pensa que alguma coisa não corre bem nas aulas;
  • O encarregado de educação desloca-se à escola e acusa o professor de não saber lidar com os alunos;
  • Também há os que vão lá, afirmam que o professor não está a contar a verdade, porque o seu educando em casa contou o sucedido de maneira diferente;
  • Ou então, limita-se a esmurrar o professor...

Quem, nos tempos que correm, não passou por alguma destas situações???

Comecei a leccionar em 1979 e por isso tenho já muitos anos de comparação... e outras situações há.

A vossa memória fará o resto...

Musicallis

3 comentários:

A Professorinha disse...

Já conhecia este texto. Muito muito bom!!!

Beijos

Jorge P. Guedes disse...

Um conjunto muito interessante de situações anedóticas mas reais.

Da parte final, conheço naturalmente bem o problema.
Os meninos têm sempre razão e os professores é que mentem, para muitos pais mal educados e incapazes, por isso mesmo, de educar os filhos.
Uma sociedade vergonhosa, a portuguesa! Um nojo de país, cada dia pior que o anterior.

Um abraço e bons trabalhos finais antes das merecidas férias.
Jorge P.G.

BF disse...

Adorei ler o post com o qual não posso estar mais de acordo… mas como tu mesma dizes “mudam-se os tempos…..” e eu acrescento nós AJUDAMOS a “…mudar as vontades”.

Quanto a este teu item

•O encarregado de educação assina a caderneta, sem qualquer comentário;

Minha cara Senhora Professora (gostas que te trate assim????) :)
também tenho algo a dizer.
Há alguns Profs que fazem exactamente o que os pais fazem. Os recados que os pais lhes enviam na caderneta são pura e simplesmente assinados sem mais água vai....
Tive disso cá em casa este ano. E garanto que também não gosto de ver a simples assinatura sem mais nada.


Beijos amiga
BF